segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ronaldinho Gaúcho faz marcas estudarem pacotão de ações

A novela sobre a volta do jogador Ronaldinho Gaúcho ao Brasil finalmente chegou ao fim com a contratação dele pelo Flamengo. No entanto, enquanto a situação não era definida, clubes procuraram patrocinadores, inclusive empresas multinacionais, com “pacotões” de marketing, para angariar mais de R$ 1 milhão mensais – valor mínimo necessário para contratar o meia-atacante.

Ronaldinho Gaúcho em ação pelo Milan.

O Flamengo, que fechou com o jogador terá de buscar novos patrocínios rapidamente. Isso porque o rubronegro ainda não tem um patrocinador master para a temporada de 2011.

A discreta movimentação em torno dos novos patrocínios se deu nas últimas semanas e tornou mais clara a tentativa de times e empresários em avançar num novo modelo de exposição de marcas no Brasil – com ações de marketing inéditas. “A possível chegada de Ronaldinho colocou as negociações em novo patamar”, afirmou Rogerio Dezembro, diretor de marketing do Palmeiras, na sexta-feira, antes de o clube informar a sua desistência na disputa. “Essa movimentação foi importante porque passamos a pensar em novas formas de negociar a marca do time e a força da marca do atleta.”

Ao lado do Flamengo, a Traffic, há 30 anos no marketing esportivo, costurou o projeto para levantar os recursos para trazer o jogador. Especula-se que a empresa deva arcar com parte do salário do meia, algo que a empresa não confirma. Dos R$ 2 milhões mensais a serem pagos em salário, a Traffic arcaria com R$ 1,2 milhão e o restante, viria de participação em ações de marketing do clube. Em troca, a Traffic deve coordenar a exploração da imagem de Ronaldinho e, possivelmente, receberá “royalties” da venda de camisas do craque.

Em outubro de 2010, o Flamengo perdeu o patrocínio da Batavo (Brasil Foods), que rendeu R$ 25 milhões ao cofre do time no ano. Isso ocorreu quando o time já negociava com o jogador. Além disso, a entrada da TIM, anunciada como certa, não foi fechada ainda.

Neste momento, o clube carioca negocia com três empresas para o patrocínio na camisa e na manga, apurou o Valor. Uma montadora chinesa está no páreo – as três principais em atuação no Brasil são a Chery Automobile, a JAC Motorse a Effa Motors. A diretoria do clube se diz otimista e acredita que terá um novo patrocinador master “nos próximos dias”.

“É preciso buscar o dinheiro fora. Os clubes não conseguem pagar o que se pede”, disse o empresário Julio Mariz, presidente executivo da Traffic. No Milan, Gaúcho tinha salário mensal de €670 mil.

No Palmeiras, para oferecer R$ 1 milhão mensais ao jogador foi preciso desenhar um plano de negócios para cada marca patrocinadora. “Para um determinado patrocinador, poderia ser interessante usar o espaço do estádio num conjunto de eventos em que o jogador deveria estar. Ou pensar até numa ação que não existia”, diz Dezembro. “Nenhuma empresa entraria pagando o salário, mas como parceira num conjunto de ações”.

Parmalat e Fiatteriam sido consultadas pelo clube, quando o Palmeiras ainda estava no páreo, com um planejamento de marketing, apurou o Valor. Com os recursos a mais, que poderiam ser obtidos em campanhas e eventos com o Palmeiras, os ganhos mensais do atleta chegariam a R$ 2 milhões ao mês, mesmo valor do Flamengo. Bônus de desempenho também estavam incluídos nessa conta.

O discreto negócio da venda de passes

A crise financeira dos clubes de futebol brasileiros favoreceu a expansão no País de empresas privadas – algumas ligadas a famílias tradicionais brasileiras – que se transformaram nas maiores negociadoras dos passes de jogadores. Discretamente, elas cresceram na última década colocando dinheiro em times – muitos perto da bancarrota – e receberam em troca até 50% do controle total do passe dos atletas desses times.

A compra do passe de jogadores da base, com até 16 anos, e a valorização do passe de atletas de primeira linha tem mantido o crescimento dessas empresas – algumas ligadas à investidores e outras, comandadas por empresários de grupos tradicionais no país. Entre as companhias do primeiro grupo estão a MFD Investimentos Esportivos e a Traffic. No conjunto das empresas ligadas a famílias (que atuam em áreas além do esporte), estão o Grupo DIS, da família dona da rede Sonda de supermercados, e os Sanchez, do laboratório EMS.

“Há atuações bem distintas hoje, com espaço para todos. Mas houve mudanças. As companhias de marketing esportivo não tratam apenas da questão do passe do jogador”, diz Vantuil Gonçalves, sócio da MFD, que atua também no agenciamento e formação de atletas. “Todos ampliaram a atuação porque o negócio do futebol cresceu muito no Brasil”. A companhia adquiriu em 2010 o time criado pelo Zico, o CFZ, com o intuito de investir num espaço para desenvolver e gerar negócios com novos atletas.

No grupo dos empresários e torcedores apaixonados está Delcir Sonda, que criou um braço de negócios focado em investimentos relacionados com o Internacional e o Santos – seus times do coração. “Mesmo louco por futebol, ele trata do assunto com cabeça de investidor”, diz um amigo próximo.

Avesso a aparições públicas, ele negociou, por exemplo, a compra de parte dos passes de Neymar e Ganso, artilheiros do Santos. “Sou um colorado fanático. Faço investimentos e não recebo certificados bancários, já que confio no clube, que sempre pagou suas contas religiosamente”, disse ele a uma rádio meses atrás.

Na família Sanchez, dona da EMS, os negócios se relacionam principalmente ao Cruzeiro, de Minas Gerais. “Essa é uma operação totalmente independente do laboratório. Começou como hobby e virou algo sério”, diz um executivo de marketing familiar ao negócio. A família tem, por exemplo, 25% do passe do Kléber, atacante que jogou no Palmeiras em 2010.

Fonte: Valor Online.

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